segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"Para morrer basta estar vivo" disse um dia a inefável "socialite" Lili Caneças,do alto das suas sandálias Gucci , com a pompa e circunstância que a ocasião exigia , como se a morte fosse não uma inevitabilidade mas apenas um apêndice da vida.
Morre-se em qualquer sitio do mundo e das mais variadas maneiras ; doença , acidente , suicídio...um infindável rol de causas que seria fastidioso enunciar , mas definitivamente em Angola morrer é diferente . Talvez até seja mais próprio dizer que , enterrar alguem em Angola é muito "sui generis".
Por volta dos anos 90 era , por exemplo , muito usual que o defunto fosse a enterrar com o caixão todo partido , prática seguida para evitar que o caixão fosse roubado e vendido a outra alma mais necessitada e porventura menos abonada financeiramente . Para além disso , em quatro provincias de Angola , sendo uma delas Luanda , realiza-se oito dias depois do enterro , uma "festa" , em homenagem do defunto (chama-se comba) ritual pagão não permitido por qualquer religião ou igreja ( e há muitas em Angola) onde se come e bebe reunindo familiares e amigos , um pouco á imagem daquilo que fazem os americanos , com a peculiar diferença que , em Angola , existem especialistas em "combas" que , armados de faca , garfo e colher e algum conhecimento da realidade do seu bairro , se misturam , comem , e saiem de mansinho como se nada fosse , até á próxima vitima (por asssim dizer) . João Dikito , meu dilecto subordinado é um profissional de "combas" , e não mostra ponta de arrependimento , pelo contrário , o seu estômago agradece e o orçamento familiar tambem .
Morrer é inevitável, mas morrer e ser enterrado desta maneira é meio caminho andado para o reino dos céus .

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Soube hoje que , em Angola , e mais concretamente em Luanda , não há casas de banho públicas .
Não vejo que isso seja particularmente grave , até porque as necessidades mais básicas são feitas em qualquer lugar , por ambos os sexos , tornando assim a natureza e a urbe num enorme wc a céu aberto .
O mais curioso é que ,para os mais acanhados , é tambem possivel usar o wc da casa mais próxima num momento de necessidade , mas aí só a troco de 50 Kwanzas (0,50€) não tendo ficado esclarecido se , no preço , estava incluido ou não papel higiénico .
De qualquer das formas ,é sempre bom saber de todas estas opções , e a partir de hoje nunca saírei de casa sem um essencial rôlo de papel higiénico .

domingo, 12 de outubro de 2008

Os domingos são uma ponte entre fazer nada , e fazer de conta que queremos fazer alguma coisa a partir de domingo .
Estou a fazer o elogio da preguiça , sim , mas estou tambem a sentir o pulsar de quem , fazendo alguma coisa , trabalhando , o faz como se não fizesse nada , por uma de duas causas : ou porque não gosta do trabalho que faz , ou porque não gosta efectivamente de trabalhar .
Se há coisas que importam na vida das pessoas , uma delas é efectivamente o trabalho , mas o problema é que a maior parte de nós pouco pouco se importa com isso , como se o trabalho fosse causa (uma chatice) e não consequência (por exemplo,de uma vida melhor) e a partir daí tudo se transformasse em óbvia obrigação de trabalhar para as causas "nobres" da existência humana , casa,família,bem estar,bens materiais,viagens...tornando irrelevante tudo aquilo que o trabalho tem de bom ;realização pessoal e profissional, e contributo para o desenvolvimento social e humano do mundo em que temos que viver.
Eu gosto de trabalhar , mas isso não impede em nada , que goste de não fazer nada , apesar do trabalho que isso dá...